domingo, 15 de maio de 2011

não indicado para menores de 18 anos



Uma noite qualquer, um desejo comum entre dois casais. Ela chegou sorrindo, com aquele olhar que há muito abdicou da inocência, ele retribuiu tocando-a no rosto, primeiro passo e vão para cama, lentamente, o prazer não tinha pressa.


Uma criança, o tédio de um berço, a solidão e a vontade de descobrir.

Ele tirou a blusa dela com calma e ela, com um desejo selvagem, arrancou a dele sem se importar com botões. Por um minuto ele até parou e admirou o que lhe pertencia: os seios, a barriga, o pescoço, os braços, o detalhe dos pelos eriçados, o cabelo comum castanho, bagunçado abaixo dos ombros. (você é minha esta noite, esta e outra e sempre) Paixão.

Movimentos de um lado para o outro no berço, vontade de chorar e gritar, (estou sozinho), o bebê então conseguiu perceber um mundo vasto através de um vidro.

E então ele passava as mãos nos seios dela, enquanto ela o beijava cheia de vontade, mordia e gemia em seu ouvido, dos seios foi para as costas dela, sentindo a espinha dorsal até chegar ao pescoço e fazendo com que ela se deitasse. Um tirando a calça do outro.

Com um pouco de dificuldade ele já podia ficar em pé e até alcançava o vidro. Noite, céu estrelado. Ele batendo forte no vidro e nada acontecendo.

Corpo contra corpo. A babá eletrônica emitia alguns barulhos estranhos, mas aquele momento era deles. Coxa e coxa se unindo, cada pele querendo sentir a pele do outro, o calor, cada centímetro do corpo gritando por mais. Beijos, dedos, cabelos.

Ele batia cada vez mais forte no vidro e a babá eletrônica captava os sons.

Cada vez mais envolvidos naquela demonstração de amor, o calor aumentando, o suor brotando, a intensidade dos movimentos.

“Dá! Dá! Dá!” e o garoto conseguiu abrir a janela, o vento frio entrou e bagunçou os cabelos dele, arrancando um sorriso alto, mesmo sem a babá eletrônica poderia ser ouvido do outro quarto, mas o casal já estava no ápice do prazer. Lentamente e com alguma dificuldade ele foi subindo na janela, décimo nono andar e, como uma folha que se solta de uma árvore naturalmente no outono, o garoto pulou.

Agora separados, ele acendeu um cigarro e ela ficou deitada de barriga para cima com o corpo nu, uma rotina após o sexo. Depois de um tempo eles resolveram dar uma olhada no filho que haviam deixado dormindo no quarto ao lado. Vestiram um roupão e foram juntos. Ao chegar lá, não havia criança alguma e podiam sentir que o ambiente estava mais frio, a janela aberta. O olhar dela, antes comum, agora era o puro horror, (não não não posso acreditar) e ele, sempre mais sensato, sua profissão como psicólogo exigia, imediatamente olhou pela janela, um aglomerado se formava. Não houve sensatez que segurasse o grito, aquele grito praticamente rasgou a noite. Ela começou a chorar como se não houvesse mais nada, caiu no chão e se abraçou forte, soluçando desesperadamente e ele a acompanhou, a abraçou, enquanto ela enterrava as unhas no próprio corpo. Dor.

Primeiro o prazer, depois a dor. A imensidão do vazio.

Alguns dias depois, Vince e Ellen naquele prédio, mal se falavam, não se tocavam, não se cruzavam, ela passava o dia deitada chorando e ele tentava ocupar a cabeça pensando em uma maneira de superar aquilo. Tentava conversar com a mulher e ser o terapeuta dela, o que não era muito indicado, mas ele estava arriscando. Conversar com ela sobre o luto e a dor da perda só geravam brigas e mais choro. E então ele resolveu que o melhor a fazer era uma mudança, que eles deveriam ir para outra casa e se afastar um pouco daquele lugar, de onde tudo havia acontecido. Ellen, completamente fragilizada, concordou e logo foram para uma casa de posse da família de Vince, no meio de uma floresta afastada da cidade.

O lugar era sinistro, Ellen sempre dissera o quanto ir ali lhe causava arrepios e sensações estranhas, enquanto o marido dizia o quanto o lugar lhe transmitia tranqüilidade. Os primeiros dias foram comuns, vez ou outra Ellen tinha pesadelos, acordava aos gritos. Vince se ocupava no porão, estudando formas de tratamento da perda, às vezes esquecendo o quanto a esposa não podia ficar sozinha naquele momento. Não, de forma alguma eles se ajudavam.

Coisas esquisitas começaram a acontecer com Ellen, mas Vince não percebia. Ela começou a ter momentos em que apagava e não se lembrava do que andara fazendo, outras vezes ela via coisas, árvores se mexendo, árvores falando, quando falava para o marido, ele lhe dizia que era natural por causa da dor e do sentimento de culpa. Outras vezes ela se cortava, mas não lembrava tê-lo feito.

Em uma noite, Vince acordou com um barulho e a esposa estava sentada no chão do quarto segurando forte uma tesoura, vermelha, chorando muito. O sangue escorria, da sua coxa esquerda podia-se ver um corte profundo e ele rapidamente tirou a tesoura da mão dela, a abraçou forte, enquanto ela permanecia estática, cuidou do corte e a colocou na cama. Ela passou o resto da noite em posição de feto, das atitudes dele não se concluíam muitas coisas, é como se a dor estivesse oculta, ou como se ele não se culpasse tanto quanto Ellen. Durante a manhã, Ellen parecia outra pessoa, tinha um olhar cheio de obsessão, amargura, culpa e solidão.

Depois de horas observou a mulher, mas acabou resistindo à vontade de se manter acordado. Uma força em cima dele o acordou repentinamente, abriu os olhos e Ellen estava em cima dele, tirando a sua roupa e deixando explícito o desejo de sexo, ele, bicho da natureza masculina, logo entendeu o recado, sem perceber, no olhar, o ódio que ela estava carregando daquele momento. Então ele a ajudou com as roupas, e sem qualquer forma de amor, foram logo ao ato. No meio disso, Ellen alcançou um abajur em cima da mesinha de cabeceira e acertou Vince com força na cabeça, que ficou lá desacordado.

Era uma manhã fria, Ellen saiu pela floresta e as árvores pareciam se aproximar dela, ela estava se sentindo sufocada. Viu um coelho parado e com uma destreza antes desconhecida, o matou, as mãos cheias de sangue, ficou lambendo-as enquanto gargalhava, era um riso cheio de pavor. Voltou para a casa em passos rápidos e encontrou o marido ainda desacordado, nu sobre a cama, observou o pênis dele e sentiu nojo, (é sua culpa, é sua culpa, MINHA CULPA MINHA CULPA MINHA CULPA), voltou para fora e com uma pedra grande em mãos foi novamente para cima do homem na cama. Com a boca começou a estimular o pênis, e ele acordou, eles acordaram, cada um com uma velocidade diferente. O pênis em sua melhor forma, Ellen em seu maior ódio, com a pedra pesada a disposição e toda a sua força reunida em mãos acertou o membro masculino de Vince, o qual uivou de dor, logo ficando tonto e desmaiando, o membro ainda em certo estado de êxtase jorrou sangue por onde antes sairia urina e gozo. Os olhos dela brilhavam, mas a cabeça dela gritava (MINHA CULPA MINHA CULPA MINHA CULPA MINHA CULPA MIIIIIIIIIINHAAAAA), por um tempo ela só conseguia chorar e pensar (minha culpa minha culpa), até avistar a tesoura que o homem antes a tomara, arrastou-se até ela, nua, abriu as pernas e sem hesitação alguma cortou lentamente o clitóris, emitiu um berro agonizante e a dor física era profunda, mas não parou, aquilo aliviava a dor interna que ela sentia e era a pior, a culpa que a torturava, (minha culpa minha culpa minha culpa e do sexo maldito o sexo maldito o sexo maldito), e o sangue era visível, para ela já estava tudo vermelho, ela não iria mais sentir prazer algum, terminou de cortar os lugares que mais a estimulavam, sempre rasgando a garganta com seus gritos. Arrastou-se novamente até o marido, segurando forte a tesoura contra o seio, e o acertou repetidas vezes, colocando toda a força que ainda lhe restava, repetiu isso por várias vezes por todo o corpo dele. Depois cortou os próprios mamilos e ficou ali, sangrando e chorando e se culpando, a cabeça latejando (minha culpa minha culpa o sexo o sexo o sexo... minha culpa minha culpa o sexo)

ps.: baseado no filme "O Anticristo", Lars Von Trier.

2 comentários: